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sexta-feira, julho 01, 2005

Os textos que contam histórias

Um mesmo livro pode conter textos de ficção e de não-ficção, textos "inventados" e textos "verdadeiros". Por explicitarem essa distinção entre o mundo imaginário e a realidade histórica, permitem que o leitor experimente uma proximidade maior com o universo retratado neles.
Para que os alunos aprendam a se tornar usuários da escrita, é preciso que convivam com ela em circunstâncias diversas, marcadas por diferentes propósitos comunicativos. Por isso é que as situações de produção e interpretação de textos na escola devem ser "verdadeiras", isto é, tanto quanto possível semelhantes àquelas praticadas na vida "real", fora da escola, no dia-a-dia dos cidadãos. Livros que contenham diferentes tipos de texto, em contextos de uso adequados, devem fazer parte da biblioteca da classe. Uma mesma história pode ser contada usando-se, por exemplo, cartas, cronologias, biografias, legendas, informes etc., os quais são organizados pelo autor para complementar a trama da história que ele está narrando. Esse processo pode ser exemplificado com Tudo é semente. Esse livro, que se complementa pela beleza das ilustrações, reúne diversos tipos de texto. Dividido em três partes, inicia-se com uma narração, acompanhada de ilustrações que retratam as páginas de um diário. Vale lembrar que essas ilustrações, por sua vez, são acompanhadas de um outro tipo de texto: as legendas. A seguir é apresentada a história que dá título ao livro e, por fim, há uma cronologia de um personagem real que, através da narrativa que a obra nos dá a conhecer, misturou-se ao mundo fictício. Embora estejam a serviço de um mesmo enredo, esses textos diferem segundo a função que exercem: o literário conta a história, enquanto os informativos ensinam sobre o tempo, o lugar, o modo de vida em que a história está ambientada etc. Nas classes de educação infantil, os alunos estão se aproximando do mundo dos textos e mergulhando nele. Estão aprendendo a adequar o uso desses textos em situações realmente comunicativas. Entre 3 e 4 anos, é importante que o professor conheça o que os alunos sabem sobre o uso de cartas, bilhetes, notícias etc. No livro A verdadeira história dos Três Porquinhos, o clássico conto do Lobo Mau ganha nova versão, na qual há recortes de jornal que podem ser apontados como portadores de textos que se referem à história. O professor deve chamar a atenção dos alunos para esse aspecto, identificando as diferenças entre um texto e outro. Já aos 5 e 6 anos, a produção de legendas para ilustrações dos livros é uma ótima possibilidade de aprendizagem de um tipo de texto que não é literário, mas que se refere diretamente à história lida para o grupo. Os alunos podem ser convidados tanto para legendar imagens, como para construir pequenos textos informativos sobre aspectos de uma história que aparecem nas ilustrações mas não no texto - por exemplo, as expressões faciais de um personagem, seu tipo de roupa, a forma do mobiliário de um ambiente etc. Em As experiências de Tíbio e Perônio há uma divertida reunião de narrativas, balões de diálogo como nas histórias em quadrinhos e muitas ilustrações legendadas, o que faz desse livro um bom modelo para a produção desse tipo de texto aplicado a ilustrações contidas em outra obra. Nas primeiras séries do ensino fundamental, brincar de se comunicar com os personagens dos contos de fadas, escrevendo para eles ou sobre eles, pode render um rico trabalho de produção escrita. Uma proposta fecunda é sugerir aos alunos que escrevam cartas ou bilhetes para personagens de histórias conhecidas, comunicando-lhes a respeito de perigos que irão enfrentar, indagando deles sobre como puderam escapar de situações perigosas ou, ainda, questionando como se sentiram diante delas. Dois exemplos:
Escrever a Chapeuzinho Vermelho aconselhando-a sobre o que pode lhe ocorrer caso opte por percorrer o caminho não recomendado por sua mãe.
Redigir uma carta endereçada a Cinderela, perguntando, entre outras coisas, o que lhe passou pela cabeça quando ouviu soarem as doze badaladas do relógio. Em Vice-versa ao contrário - uma coletânea de novas versões para narrativas conhecidas - ao reinventar a história do conde Drácula, Heloisa Prieto cria uma correspondência entre dois personagens inventados por ela. O tema principal das cartas é o mistério que cerca o famoso vampiro, o que resulta numa "brincadeira" divertida. O professor pode propor aos alunos algo semelhante, com personagens de narrativas que tenham sido trabalhadas em classe. É interessante observar que nesse mesmo livro há outro tipo de texto: os boxes com informação sobre os autores dos contos originais e uma síntese da versão original. Para as classes da quinta à oitava série, a proposta é produzir textos informativos cujo tema seja "irreal", porque vinculado diretamente ao mundo da fantasia, mas capaz de dar suporte à compreensão da história. Três sugestões: "A moda na era Cinderela", "Os fatos mais marcantes nos 100 anos de sono da princesa Aurora", "As receitas de Branca de Neve para deleite dos anões". Outra situação interessante em que textos diversos se casam com textos literários é a de escrever a biografia de um personagem dos contos clássicos. Na série de livros da coleção composta por Drácula, Robin Hood, Beleza Negra, O Corcunda de Notre-Dame e O médico e o monstro, a história desses personagens é acompanhada de informações sobre a vida cotidiana no tempo em que eles teriam vivido, bem como de ilustrações legendadas, cronologias, linhas do tempo e outros textos que mesclam a ficção e a realidade, a imaginação e a história, permitindo assim que o leitor experimente uma proximidade maior com o universo retratado nessas obras.
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Extraído da publicação eletrônica "Sala do Professor - Caderno de Leituras")

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