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sexta-feira, dezembro 03, 2004

Os Três filhos do Rei

Um grande rei tinha três filhos e queria escolher um deles para ser seu herdeiro. Isso era muito difícil, pois os três eram muito inteligentes e corajosos. E eram trigêmeos, tendo portanto a mesma idade, assim não havia maneira de decidir. Então ele perguntou a um grande sábio, que deu uma idéia. O rei foi para casa e chamou os três filhos. E a cada um deu uma sacola com sementes de flores, e os avisou que estava indo a uma longa viagem: “Levará alguns anos – um, dois, três, talvez mais. E isso é uma espécie de teste para vocês. Terão que me devolver estas sementes quando eu voltar. Aquele que proteger melhor será o meu herdeiro”. E partiu.
O primeiro filho pensou: “O que devo fazer com essas sementes?”. Ele as trancou num cofre de ferro, pois quando o pai voltasse, precisaria devolve-las como eram.
O segundo filho pensou: “Se eu as trancar como meu irmão fez, elas morrerão. E uma semente morta não é mais uma semente.” Então foi ao mercado, vendeu-as e guardou o dinheiro. E pensou:
“Quando meu pai voltar, irei ao mercado, comprarei novas sementes e devolverei a ele sementes melhores que as primeiras”.
Mas o terceiro foi ao jardim e jogou as sementes em todos os lugares.
Após três anos, quando o pai voltou, o primeiro filho abriu seu cofre. As sementes estavam mortas, cheirando mal. E o pai disse: “O que? São essas as sementes que te dei? Elas tinham a possibilidade de desabrochar em flores e exalar um maravilhoso perfume – e essas estão cheirando mal! Essas não são as minhas sementes!” O filho insistiu que eram as mesmas, e o pai falou: “Você não é digno de ser meu herdeiro, és muito materialista”.
O segundo filho correu ao mercado, comprou sementes, voltou para casa e as apresentou ao pai, que disse: “Mas essas não são as mesmas. Sua idéia foi melhor que a do seu irmão, mas você ainda não é capaz como gostaria que fosse. Você é um psicólogo”.
Ele foi ao terceiro, com grande esperança e também com apreensão: “O que ele fez?”.E o terceiro filho o levou ao jardim e havia milhares de plantas florescendo, milhares de flores à toda volta. E o filho disse: “Estas são as sementes que você me deu. Logo que estiverem no ponto colherei e devolverei a você!”. O pai disse:
“Você é o meu herdeiro. Essa é a maneira de agir com as sementes!”.

Contada pela minha grande amiga Joana Abreu (Brasília – DF) em Dezembro de 2000 na cidade de São Mateus – ES e recontada por James Silva.
Essa história dedico ao meu pai, (meu contador de histórias favorito e predileto) como presente de aniversário e por ter me ensinado muito sobre as sementes.

As duas vizinham que não paravam de brigar

"Pois viver deveria ser - até o último pensamento e o derradeiro
olhar - transformar-se". (Lya Luft)

Duas vizinhas que viviam em pé de guerra. Não podiam se encontrar na rua que era briga na certa. Depois de um tempo, uma delas descobriu o verdadeiro valor da amizade e resolveu que iria fazer as pazes com a outra. Ao se encontrarem na rua, muito humildemente, disse dona Maria: "Minha querida Antonia, já estamos nessa desavença há anos e sem nenhum motivo aparente. Estou propondo para você que façamos as pazes e vivamos como duas boas e velhas amigas."
Dona Antonia, na hora, estranhou a atitude da velha rival e disse que iria pensar no caso. Pelo caminho foi pensando, pensando pensando...
"Essa dona Maria não me engana, está querendo me aprontar alguma coisa e eu não vou deixar barato.Vou mandar-lhe um presente para ver sua reação." Chegando em casa preparou uma bela cesta de presentes, cobrindo-a com um lindo papel, mas encheu-a de bosta de vaca. "Eu adoraria ver a cara da dona Maria ao receber esse 'maravilhoso' presente. Vamos ver se ela vai gostar dessa." Mandou a empregada levar o presente à casa da rival, com um bilhete:
"Aceito sua proposta de paz e para selarmos nosso compromisso,envio-te esse lindo presente."
Dona Maria estranhou o presente, mas não se exaltou e pensou: "Que ela está propondo com isso? Não estamos fazendo as pazes? Bem, deixa pra lá."

Alguns dias depois Dona Antonia atende a porta e recebe uma linda cesta de presentes, coberta com um belo papel. "É a vingança daquela asquerosa da Maria. Que será que ela me aprontou!" - pensa ela.
Qual não foi sua surpresa ao abrir a cesta e ver um lindo arranjo das mais belas flores que podiam existir num jardim, e um cartão com a seguinte mensagem: "Estas flores é o que te ofereço em prova da minha amizade. Foram cultivadas com o esterco que você me enviou e que virou um excelente adubo para o meu jardim. Afinal, cada um dá o que tem em abundância em sua vida."

quarta-feira, dezembro 01, 2004

A Loja da Dona Raposa

Raposa é um animal muito sabido e muito bom de fazer negócios (comprar, trocar e vender coisas).
Seu Tavares era uma raposa que estava com problemas com seus negócios, já estava até pensando em fechar sua lojinha na floresta:
- Ué, Seu Tavares, você está fechando sua lojinha?
- Oh! Onça Tonha, aqui na floresta só tem bicho doido que faz encomenda doida!
- Ah, é!?
- Olha só, o Dante Elefante me encomendou um cachecol!
- E aí?
- E aí, como é que eu vou fazer um cachecol do tamanho do pescoço de um elefante! (falar da lã)
- É mesmo! E o que mais?
- E a Girafa que me pediu uma gravata para ir a um casamento, não poderia ser uma gravata borboleta igual a do pingüim?! (falar do bicho-da-seda)
- Que complicação!
- E a cobra então, que quer uma bolsa!
- E o que tem de mau nisso, Seu Tavares?
- O que tem de mau é que a bolsa que ela quer é a tiracolo e ela nem tem ombro pra pendurar a bolsa!
- AH! AH! AH! Essa é boa! Mas, deixa isso pra lá e me conte se não apareceu uma encomenda razoável!
- Ah! Também não posso dizer que todo bicho é biruta. O sapo encomendou pastilhas pra garganta pois estava desafinando no coral.
- Tá vendo Seu Tavares, também tem um lado bom!
- É, isso eu não posso negar! O Bodão pediu um barbeador e o Gambá pediu um desodorante!
- Ah! Até que enfim, parece que vamos tem um ar mais puro na mata!
- Você acredita que o pica-pau encomendou uma furadeira!
- Que preguiçoso!
- E a centopéia!
- Aquela que anda rebolando?
- Isso mesmo, imagine que ela resolveu usar calça!
- Virgem Santa!
- Não arrumo aranhas para fazer o serviço!
- É Seu Tavares, é difícil!
- Se continuar assim, só de pensar nas novas encomendas não consigo nem dormir! Imagine se a vaquinha leiteira resolver usar sutiã, vai sobrar pra mim!
- Ah! Seu Tavares, justo agora que eu ia fazer uma encomenda!
- E o que é que você ia encomendar?
- Sabe o que é, é que eu arrumei um novo namorado que me chamou de sardenta, e eu ia encomendar um creme para retirar as sardas!
- Ah! Não!!!

(adaptação da obra A loja da Dona Raposa, de Hardy Guedes)

Crianças devem ser estimuladas a ler

Há diferenças significativas entre as crianças que recebem e as que não recebem estímulo para a leitura. Aquelas que crescem em ambientes onde não se criam condições para a leitura só narram fatos do cotidiano, possuem repertório pobre, reproduzem apenas histórias mais conhecidas, empregam frases segmentadas e têm baixo nível criativo, enquanto aquelas estimuladas a ler acrescentam fatos novos às narrativas, apresentam repertório variado, têm texto oral estruturado, com histórias com início, meio e fim. Também apresentam conteúdos gramaticais mais complexos e temas criativos.
Pode-se concluir que o ato de ouvir histórias além de desenvolver o interesse pela leitura:
enriquece o vocabulário;
estimula a inteligência;
age de forma educativa;
desenvolve o pensamento da criança, sua sensibilidade e imaginação;
cria condições para o aprimoramento do ato de memorizar e prestar atenção; e
ensinam a criança a comparar, a lembrar e preparar-se para a vida .

A LIBÉLULA


Num lugar muito bonito, onde havia árvores, flores e um lindo lago, certo dia surgiu um casulo. Quando ele se rompeu, de dentro saiu voando uma libélula. Ao sair do casulo ela ficou tão encantada com o lugar, que voou por cada pedaço de tudo o que seus olhos conseguiam mirar. Brincou nas flores, nas árvores, no lago, nas nuvens. Aliás ela adorou brincar com as nuvens. Eram macias. Perdeu um longo tempo com elas. Quando já tinha conhecido tudo, no alto de uma montanha, avistou uma casa. A casa do homem. Ela havia de conhece-lo. Foi voando pra lá. Voou, que voou que voou... e posou na janela da cozinha. Nesse dia, uma grande festa era preparada para a filha do dono da casa. Um homem com um chapéu branco, grande, dava ordens para os empregados, mas a libélula não se preocupou com isso. Brincou entre os cristais, se viu na bandeja de prata, explorou cada pedacinho daquele novo mundo. Ao olhar para a mesa, avistou uma tigela cheia de nuvens. Não resistiu, mergulhou na tigela, pois, tinha adorado brincar nas nuvens. Mas quando ela mergulhou...ahhhhhhhh...aquilo não eram nuvens, eram claras de neve que o cozinheiro havia preparado para fazer o bolo. Foi ficando toda grudada, e quanto mais ela se mexia tentando escapar... mais ela afundava. A pobre libélula começou a rezar ao DEUS PROTETOR DOS INSETOS VOADORES, pedindo que se a libertasse, dedicaria o resto de seus dias na ajuda dos outros insetos voadores. Rezava e pedia mas parecia que era em vão, continuava a afundar. Dizia ela em voz de libélula apavorada: SENHOR DEUS, SE O SENHOR ME TIRAR DESSA ENRASCADA, PROMETO QUE DEDICAREI TODOS OS DIAS DE MINHA VIDA NA AJUDA DE OUTROS INSETOS VOADORES. A coitada já estava quase toda dentro da clara de neve quando o chefe da cozinha voltou cantando: LA LA LA LA LALALA LARÁ! Olhou para dentro da tigela e disse: OHHH! Um ponto preto na minha massa branca? OHHH! Pegou uma colher, enfiou na tigela, pegou a libélula e a atirou pela janela... Zuuummmm, e lá se foi a libélula janela afora, zuuummmm... pooofttt... caiu na grama. O sol estava quente e a massa começou a secar em seu corpo. Limpou, limpou, limpou, limpou (Ufa!!!) até que limpa (e cansada) se lembrou da promessa que havia feito ao DEUS PROTETOR DOS INSETOS VOADORES, e disse: Senhor Deus, bem sei que prometi (se conseguisse sair daquela enrascada), dedicar todos os dias de minha vida na ajuda dos outros insetos voadores. Maaasss (aahhhh!!!) agora estou um pouco cansaaaada. Façamos um trato, descanso um pouquinho e depois cumpro o prometido.
Dormiu. Mas o que ela não sabia, e talvez você não saiba, assim como eu não sabia, é que as libélulas vivem apenas um dia. Naquela tarde, com o sol a bater em seu corpo, num pedaço de grama macia, ela não voltou a acordar.Assim me contaram e assim contei pra vocês. E quem quiser que conte três.

(Recontada por James Silva – Tradição Oral)
Encontrei essa história por acaso em 1997. Passei a contá-la a partir daí inúmeras vezes. Já é bem diferente do que me contaram. Acontece sempre quando o contador – nesse processo bi-lateral (história-contador, contador-história) – começa a contar determinada(s) história(s), acabar colocando muito dele nela. Acaba reescrevendo a história muitas vezes. Absorvendo. Como uma pele. Uma mesma história não é a mesma, de contador para contador. Encontrei uma versão desse conto em um site certa vez. Para quem encontra-la verá que há diferenças significativas na narrativa. Essa é uma das magias de se contar histórias: cada um conta ao seu modo, do seu jeito, da sua forma e para quem quiser. Viva!

CONTATOS DE TODO MUNDO

James Silva
Ator / Arte-Educador / Contador de Histórias
jamesquartum@ig.com.br
(55) (11) 8251-8623
Oficinas / Contação de Histórias / Assessoria em Projetos Culturais
Mauá - SP - Brasil