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sexta-feira, julho 01, 2005

Como criar personagens?

Para o desenvolvimento de uma competência narrativa, é preciso desde cedo estimular os alunos a observar a caracterização dos personagens, a ver como eles são construídos, como agem, como teriam agido se não fossem como são.Quando as crianças chegam ao momento de escolaridade em que, já alfabetizadas e com conhecimentos suficientes sobre a linguagem escrita, podem escrever suas próprias histórias, as situações envolvendo a criação de textos narrativos se multiplicam. Se o professor deseja que seus alunos escrevam histórias originais, deve lembrar que um dos problemas que eles enfrentarão será decidir que personagens vão viver as tramas imaginadas. Deve também levar em conta que essa escolha dependerá do enredo que for criado por eles. A tarefa não é simples. O êxito depende da quantidade e da qualidade das informações e dos conhecimentos que cada aluno possui sobre o que caracteriza uma história bem contada, que personagens são adequados a determinado tipo de narrativa, por que são adequados ou não e, ainda, de que forma se pode introduzi-los, caracterizá-los etc. O conhecimento necessário para o desenvolvimento dessa competência narrativa não é espontâneo: começa muito cedo, quando, ainda pequenas, as crianças ouvem as primeiras histórias em casa, lidas ou contadas por pessoas da família. Nas classes de educação infantil, entre 3 e 6 anos, os momentos em que os professores lêem histórias são geralmente diários. As histórias lidas ou contadas podem ser selecionadas tendo por objetivo a composição de um universo de personagens que os alunos sejam capazes de conhecer, comparar, transformar, reconstruir. Com crianças de 3 e 4 anos podemos conversar, por exemplo, sobre as bruxas que aparecem em diferentes histórias, ou sobre as armas e os poderes de diferentes heróis. A partir de 5 e 6 anos, o professor pode criar situações em que os alunos tenham de identificar uma história conhecida, porém contada por um personagem e não pelo narrador, ou, então, com o foco da narrativa colocado em um personagem secundário. No livro Que história é essa?, Flavio de Souza utiliza esse recurso para recontar histórias conhecidas, como "A roupa nova do rei". É importante não desvincular esses desafios do prazer que o contato com os textos provoca, isto é, o professor não deve "dar aulas sobre personagens", mas falar sobre eles, sempre estabelecendo relações com as narrativas lidas. Quando os alunos chegam às primeiras séries do ensino fundamental e já sabem escrever convencionalmente, as possibilidades de trabalho se ampliam. A criação de uma galeria de personagens mostra-se uma estratégia fecunda.Histórias tradicionais na literatura infanto-juvenil como as reunidas no Livro de histórias ou nos Contos de Grimm permitem conhecer uma coleção de personagens de valor inestimável para a formação literária dos alunos em diferentes idades. Por isso, podem e devem ser lidas em diferentes momentos da escolaridade. A leitura dos livros da Coleção Quase Tudo O Que Você Queria Saber também pode contribuir para o desenvolvimento de seqüências didáticas que organizem, durante alguns dias, momentos em que os alunos realizem atividades como estas:
Levantamento das histórias e personagens preferidos pela classe. Seleção de outras histórias que contenham personagens semelhantes.
Comparação e caracterização dos personagens dessas histórias para o estabelecimento de uma tipologia. Comparar personagens relacionados à vida escolar, como os que aparecem em A professora de desenho e Estátua!, pode ser divertido e proporcionar boas condições para esse exercício.
Escolha (individual ou em duplas) de um entre os personagens estudados. Criação de um texto que descreva um novo personagem desse tipo. Por exemplo, se o escolhido for bruxa, os alunos elaboram por escrito uma descrição das características físicas e de comportamento da nova bruxa. Depois de escolhido um nome para ela, criam um desenho que ilustre a imagem descrita no texto.
Nesse momento, é interessante promover situações de pesquisa de expressões faciais observáveis nas ilustrações dos personagens estudados. Os alunos devem relacioná-las aos sentimentos dos personagens descritos no texto. Os textos e as ilustrações dos alunos podem depois compor um livro de personagens ou uma exposição. No segmento da quinta à oitava série os alunos já podem enfrentar desafios mais complexos, como introduzir novos personagens em uma trama já conhecida, fazer versões pessoais para histórias clássicas, criar histórias a partir de duplas ou tríades de personagens propostas pelo professor: príncipe/ovelha/feiticeiro, bruxa/ cavalo/princesa, rainha/golfinho/palhaço etc. Durante esse trabalho, a leitura de Era uma vez no futuro, por exemplo, pode ser interessante para incentivar a criação de enredos em que personagens de histórias antigas invadem a vida contemporânea. Alunos de séries superiores (as últimas do ensino fundamental e as do ensino médio) podem ser convidados a investigar e diferenciar o mundo social e seus personagens, tal como eles aparecem nas histórias que são escritas, lidas e contadas para crianças pequenas. Analisar e diferenciar a rede de relações entre os personagens de histórias como As aventuras de Pedro, o Coelho, as Fábulas de Esopo ou Domingão jóia, por exemplo, pode desafiá-los a pensar os aspectos ideológicos que intervêm no trabalho dos escritores.
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Extráido da revista eletrônica "Sala do Professor - Caderno de Leituras")

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Professor,

Muito bom o texto que extraiu da Revista Eletrônica, só que não consegui encontrá-la na net.
Poderia colocar o link direto?

Manoel
http://osvandir.blogspot.com