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quinta-feira, abril 28, 2005

Modinha

Quando eu fico aguda de saudade eu viro só ouvido. Encosto ele no ar, na terra, no canto das paredes, pra escutar nefando, a palavra nefando. Um homem que já morreu cantava "a flor mimosa desbotar não pode, nem mesmo o tempo de um poder nefando"- mais dolorido canta quem não é cantor. A alma dele zoando de tão grave, tocável como o ar de sua garganta vibrando. No juízo final, se Deus permitisse, eu acordava um morto com este canto, mais que o anjo com sua trombeta.

(Adélia Prado)

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