twitter: jamessilva1 - facebook.com/jamessilva1976 Disponibilizar e trocar contos e histórias colhidas pela tradição oral e/ou originais e adaptados. Apontar possibilidades de se trabalhar a partir dos contos com diversos públicos e capacitar novos contadores. Sao Paulo - Brasil (55 11) 96649 0952) jamessilva2012@hotmail.com
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quinta-feira, abril 28, 2005
A MENINA E O PÁSSARO ENCANTADO (Rubem Alves)
Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo. Ele era um pássaro diferente de todos os demais: era encantado. Os pássaros comuns, se a porta da gaiola estiver aberta, vão embora para nunca mais voltar. Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades... Suas penas também eram diferentes. Mudavam de cor. Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava. Certa vez, voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodão. “Menina, eu venho de montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco de encanto que eu vi, como presente para você”. E assim ele começava a cantar as canções e as estórias daquele mundo que a menina nunca vira, até que ela adormecia e sonhava que voava nas asas do pássaro. Outra vez, voltou vermelho como fogo, penacho dourado na cabeça. “Venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem água, onde os grandes,os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se apaga. Minhas penas ficaram como aquele sol e eu trago canções tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras e ver a beleza dos campos verdes”. E de novo, começavam as estórias. A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia. E o pássaro amava a menina e, por isso, voltava sempre.Mas chegava sempre uma hora de tristeza. “Tenho que ir” - ele dizia. “Por favor não vá, fico tão triste, terei saudades e vou chorar”.”Eu também terei saudades” - dizia o pássaro. Eu também vou chorar. Mas eu lhe vou contar um segredo: as plantas precisam da água, nós precisamos do ar, os peixes precisam dos rios... E o meu encanto precisa da saudade. É aquela tristeza, na espera da volta, que faz com que minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudades. Eu deixarei de ser um pássaro encantado e você deixará de me amar. Assim ele partiu. A menina sozinha, chorava de tristeza à noite imaginando se o pássaro voltaria. E foi numa dessas noites que ela teve uma idéia malvada. “Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá; será meu para sempre. Nunca mais terei saudades e ficarei feliz”. Com esses pensamentos, comprou uma linda gaiola, própria para um pássaro que se ama muito. E ficou à espera. Finalmente, ele chegou, maravilhoso, com suas novas cores,com estórias diferentes para contar. Cansado da viagem, adormeceu. Foi então que a menina, cuidadosamente, o prendeu na gaiola para que ele nunca mais a abandonasse.E adormeceu feliz. Foi acordar de madrugada, com um gemido triste do pássaro. “Ah! Menina... Que é que você fez? Quebrou-se o encanto. Minhas penas ficarão feias e eu me esquecerei das estórias...Sem a saudade, o amor irá embora”. A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar, mas isto não aconteceu.O tempo ia passando, e o pássaro ia ficando diferente. Caíram suas plumas, os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste.E veio o silêncio; deixou de cantar. Também a menina se entristeceu. Não, aquele não era o pássaro que ela amava. E de noite ela chorava, pensando naquilo que havia feito ao seu amigo... Até que não mais agüentou. Abriu a porta da gaiola. “Pode ir, pássaro, volte quando quiser”. “Obrigado, menina. É, eu tenho que partir. É preciso partir para que a saudade chegue e eu tenha vontade de voltar. Longe, na saudade, muitas coisas boas começam a crescer dentro da gente. Sempre que você ficar com saudades, eu ficarei mais bonito. Sempre que eu ficar com saudades, você ficará mais bonita. E você se enfeitará para me esperar”. E partiu. Voou que voou para lugares distantes. A menina contava os dias, e cada dia que passava a saudade crescia. “Que bom, pensava ela, meu pássaro está ficando encantado de novo”. E ela ia ao guarda-roupa, escolher os vestidos; penteava os cabelos, colocava flores nos vasos. “Nunca se sabe. Pode ser que ele volte hoje!”. Sem que ela percebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado como o pássaro. Porque, em algum lugar, ele deveria estar voando. De algum lugar ele haveria de voltar. Ah! Mundo maravilhoso que guarda em algum lugar secreto o pássaro encantado que se ama... E era assim que ela, cada noite, ia para a cama, triste de saudade, mas feliz com o pensamento. “Quem sabe ele voltará amanhã?” . E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro.
O menino que jogava estrelas ao mar
Um poeta foi para sua casa de praia buscar inspiração para escrever um novo livro. Seu hábito era passear pela areia toda manhã e a tarde escrevia. Numa dessas caminhadas visualizou ao longe, um jovem que se abaixava, apanhava alguma coisa na areia e a arremessava ao mar. No dia seguinte, em seu passeio, observou novamente o poeta o jovem a repetir a mesma cena da manhã anterior. Abaixava-se, apanhava algo na areia e arremessava ao mar. Na terceira manhã, ante a repetição das mesmas cenas, o poeta, intrigado, achegou-se ao jovem e perguntou: - O que fazes meu jovem? - Estou jogando essas estrelas-do-mar de volta ao oceano para elas não morrerem na praia - respondeu o jovem. - Mas porque você faz isso se milhões de estrelas-do-mar estão morrendo nas areias nesse momento e não vai fazer nenhuma diferença você salvar uma, duas ou três delas? Ao que o jovem respondeu: - Para essas duas ou três faz muita diferença. A partir desse dia, toda manhã é possível ver numa praia qualquer um jovem e um poeta arremessando estrelas de volta ao mar.
Colhida pela tradição oral. Recontada por James Silva
O HOMEM SEM SORTE
Vivia perto de uma aldeia um homem, um homem que era completamente sem sorte. Nada do que ele fazia dava certo. Muitas vezes ele plantava sementes e o vento vinha e as levava, outras vezes, era a chuva, que vinha tão violenta e carregava as sementes. Outras vezes ainda, as sementes permaneciam sob a terra, mas o sol, era tão quente, que as cozinhava. E ele se queixava com as pessoas e as pessoas escutavam suas queixas, da primeira vez com simpatia, depois com um certo desconforto e enfim quando o viam mudavam de caminho, ou entravam para dentro de suas casas fechando portas e janelas, evitando-o. Então alem de sem sorte, o homem se tornou chato e muito só. Ele começou a querer achar um culpado para o que acontecia com ele. Analisando a situação de sua família percebeu que seu pai era um homem de sorte, sua mãe, esta tinha sorte por Ter se casado com seu pai, e seus irmãos eram muito bem sucedidos, pois então, se não era um caso genético, só poderia ser coisa do Criador. E depois de muito pensar resolveu tomar uma atitude e ir até o fim do mundo falar com o Criador, que como Criador de tudo, deveria ter uma resposta. Arrumou sua malinha, algum alimento e partiu rumo ao fim do mundo. Andou um dia, um mês, um ano e um dia, e pouco antes de entrar numa grande floresta ouviu uma voz: - Moço, me ajude. Ele então olhou para os lados procurando alguém. Até que se deparou com um lobo, magro, quase sem pelos, era pele e osso o infeliz. Dava para contar suas costelas . Ele falou: - Há três meses estou nesta situação. Não sei o que está acontecendo comigo. Não tenho forças para me levantar daqui. O homem refeito do susto respondeu: - Você está se queixando a toa ...Eu tive azar a vida inteira. O que são três meses? Mas faça como eu. Procure uma resposta. Eu estou indo procurar o Criador para resolver o meu problema. - Se eu não tenho forças nem para ir ao rio beber água... Faça este favor para mim . Você está indo vê-lo, pergunte o que está acontecendo comigo. O homem fez um sinal de insatisfação e disse que estava muito preocupado com seu problema , mas se lembrasse, perguntaria. Virando as costas, continuou seu caminho. Andou um dia, um mês, um ano e um dia e de repente, ao tropeçar numa raiz, ouviu: - Moço, cuidado. E quando olhou, viu uma folhinha que vinha caindo, caindo…Olhando para cima viu que a árvore com apenas duas folhinhas. Levantou-se e observando suas raízes desenterradas, seus galhos retorcidos, sua casca soltando-se do tronco , falou: - Você não se envergonha ? Olhe as outras árvores a sua volta e diga se você pode ser chamada de árvore? Conserte sua postura. A árvore, com uma voz de muita dor, disse: - Não sei o que está acontecendo comigo. Estou me sentindo tão doente. Há seis meses que minhas folhas estão caindo, e agora, como vês, só restam duas... E, no fim de uma conversa, pediu ao homem que procurasse uma solução com o Criador. Contrariado , o homem virou as costas com mais uma incumbência. Andou um dia, um mês, um ano e um dia e chegou a um vale muito florido , com flores de todas as cores e perfumes. Mas o homem não reparou nisto. Chegou até uma casa e na frente da casa estava uma moça muito bonita que o convidou a entrar. Eles conversaram longamente e quando o homem deu por si já era madrugada. Ele se levantou dizendo que não podia perder tempo e quando já estava saindo ela lhe pediu um favor: - Você que vai procurar o Criador , podia perguntar uma coisa para mim? É que de vez em quando sinto um vazio no peito , que não tem motivo , nem explicação. Gostaria de saber o que é e o que posso fazer por isto. O homem prometeu que perguntaria e virou as costas e andou um dia, um mês, um ano e um dia e chegou por fim ao fim do mundo. Sentou-se e ficou esperando até que ouviu uma voz. E uma voz no fim do mundo, só podia ser a voz do criador. - Tenho muitos nomes. Chamam-me também de Criador... E o homem contou então toda a sua triste vida . Conversou longamente com a voz até que se levantou e virando as costas foi saindo, quando a voz lhe perguntou: - Você não está se esquecendo de nada? Não ficou de saber respostas para uma árvore, para um lobo e para uma jovem? - Tem razão...E voltou-se para ouvir o que tinha que ser dito. Depois de um tempinho virou-se e correu ....mais rápido que o vento até que chegou na casa da jovem. Como ela estava em frente à casa , vendo-o passar chamou: - Ei!!! Você conseguiu encontrar o Criador? Teve as respostas que queria? - Sim!!! Claro! O Criador disse que minha sorte está muito no mundo . Basta ficar alerta para perceber a hora de apanhá-la! - E quanto a mim, você teve a chance de fazer a minha pergunta? - Ah! O Criador disse que o que você sente é solidão. Assim que encontrar um companheiro vai ser completamente feliz, e mais feliz ainda vai ser o seu companheiro. A jovem então abriu um sorriso e perguntou ao homem se ele queria ser este companheiro. - Claro que não...Já trouxe a sua resposta....Não posso ficar aqui perdendo tempo com você. Não foi para ficar aqui que fiz toda esta jornada. Adeus!!! E virando as costas correu, mais rápido do que a água, até a floresta onde estava a árvore. Ele nem se lembrava dela. Mas quando novamente tropeçou em sua raiz, viu caindo uma última folhinha. Ela perguntou se ele tinha uma resposta, ao que o Homem respondeu: - Tenho muita pressa e vou ser breve, pois estou indo em busca de minha sorte, e ela está no mundo. O Criador disse que você tem embaixo de suas raízes uma caixa de ferro cheia de moedas de ouro. O ferro desta caixa está corroendo suas raízes. Se você cavar e tirar este tesouro daí vai terminar todo o seu sofrimento e você vai poder virar uma árvore saudável novamente. - Por favor !!!Faça isto por mim!!! Você pode ficar com o tesouro. Ele não serve para mim. Eu só quero de novo minha força e energia. O homem deu um pulo e falou indignado: - Você está me achando com cara de quê? Já trouxe a resposta para você. Agora resolva o seu problema. O Criador falou que minha sorte está no mundo e eu não posso perder tempo aqui conversando com você, muito menos sujando minhas mãos na terra. E virando as costas correu, mais rápido do que a luz atravessou a floresta , e chegou onde estava o lobo, mais magro ainda e mais fraco. O homem se dirigiu a ele apressadamente e disse: - O Criador mandou lhe falar que você não está doente. O que você tem é fome. Está a morrer de inanição, e como não tem forças mais para sair e caçar, vai morrer ai mesmo. A não ser, que passe por aqui uma criatura bastante estúpida, e você consiga comê-la. E nesse momento, os olhos do lobo se encheram de um brilho estranho, e reunindo o restante de suas forças, o lobo deu um pulo e comeu o homem sem sorte.
O CASAL SILENCIOSO
Era uma vez um homem e uma mulher que tinham acabado de se casar. Ainda vestidos com seus trajes nupciais se acomodaram em seu novo lar mal o último convidado partiu.
- Querido - disse a jovem senhora, - Vá fechar a porta que dá para a rua. Ficou aberta.
- Fechar a porta? Eu? - falou o noivo. - Um noivo em seus trajes esplêndidos, com um manto de valor inestimável e uma adaga cravejada de pedras? Como alguém poderia esperar que eu fizesse uma coisa dessas? Você deve estar fora do juízo. Vá você mesma fechá-la.
- Ah, é? - gritou a noiva.- Você pensa que sou sua escrava? Uma mulher bonita e gentil como eu, que usa um vestido da mais fina seda? Você acha que eu me levantaria do dia do meu casamento para fechar a porta que dá para uma via pública? Impossível!
Ficaram em silêncio por um minuto ou dois, e a mulher sugeriu que poderiam solucionar o problema com uma aposta. Combinaram que o primeiro que falasse fecharia a porta. Havia dois sofás na sala, e a dupla se sentou, frente a frente, olhando-se em silêncio. Ficaram assim durante duas ou três horas. Enquanto isso um bando de ladrões passou por ali e viram que a porta estava aberta. Esgueiraram-se para dentro da casa silenciosa, que parecia deserta, e começaram a recolher todos os objetos que pudessem carregar, fosse qual fosse o seu valor. O casal de noivos os ouviu entrar, mas um achava que era o outro quem devia cuidar do assunto. Nenhum dos dois falou, nem se mexeu, enquanto os ladrões iam de um quarto a outro, até que finalmente chegaram à sala e não perceberam, de início, a sombria e estática dupla. O casal no entanto continuava sentado, enquanto os ladrões carregavam todos os valores e enrolavam os tapetes sob os pés dos esposos. Confundindo o idiota e sua obstinada esposa com manequins de cera, despojaram-nos de suas jóias. Mesmo assim a dupla continuava muda. Os ladrões se foram. A noiva e o noivo continuaram sentados a noite toda, e nenhum deles desistiu. Ao amanhecer um policial em sua ronda viu a porta aberta e entrou. Indo de um aposento ao outro, chegou finalmente ao casal e perguntou-lhes o que tinha acontecido. Nem o homem nem a mulher se dignaram a responder. O policial pediu reforços. Muitos defensores da lei chegaram, e todos foram ficando cada vez mais furiosos diante do silêncio total, que lhes parecia, obviamente, uma afronta calculada. O oficial encarregado perdeu finalmente o controle e ordenou a um de seus homens:
- Dê um tabefe ou dois nesse homem para que recupere a razão. Diante disso a mulher não conseguiu conter-se: - Por favor, senhores guardas - choramingou, - não batam nele. É meu marido!
- Ganhei! - gritou imediatamente o imbecil. - Você vai fechar a porta!
- Querido - disse a jovem senhora, - Vá fechar a porta que dá para a rua. Ficou aberta.
- Fechar a porta? Eu? - falou o noivo. - Um noivo em seus trajes esplêndidos, com um manto de valor inestimável e uma adaga cravejada de pedras? Como alguém poderia esperar que eu fizesse uma coisa dessas? Você deve estar fora do juízo. Vá você mesma fechá-la.
- Ah, é? - gritou a noiva.- Você pensa que sou sua escrava? Uma mulher bonita e gentil como eu, que usa um vestido da mais fina seda? Você acha que eu me levantaria do dia do meu casamento para fechar a porta que dá para uma via pública? Impossível!
Ficaram em silêncio por um minuto ou dois, e a mulher sugeriu que poderiam solucionar o problema com uma aposta. Combinaram que o primeiro que falasse fecharia a porta. Havia dois sofás na sala, e a dupla se sentou, frente a frente, olhando-se em silêncio. Ficaram assim durante duas ou três horas. Enquanto isso um bando de ladrões passou por ali e viram que a porta estava aberta. Esgueiraram-se para dentro da casa silenciosa, que parecia deserta, e começaram a recolher todos os objetos que pudessem carregar, fosse qual fosse o seu valor. O casal de noivos os ouviu entrar, mas um achava que era o outro quem devia cuidar do assunto. Nenhum dos dois falou, nem se mexeu, enquanto os ladrões iam de um quarto a outro, até que finalmente chegaram à sala e não perceberam, de início, a sombria e estática dupla. O casal no entanto continuava sentado, enquanto os ladrões carregavam todos os valores e enrolavam os tapetes sob os pés dos esposos. Confundindo o idiota e sua obstinada esposa com manequins de cera, despojaram-nos de suas jóias. Mesmo assim a dupla continuava muda. Os ladrões se foram. A noiva e o noivo continuaram sentados a noite toda, e nenhum deles desistiu. Ao amanhecer um policial em sua ronda viu a porta aberta e entrou. Indo de um aposento ao outro, chegou finalmente ao casal e perguntou-lhes o que tinha acontecido. Nem o homem nem a mulher se dignaram a responder. O policial pediu reforços. Muitos defensores da lei chegaram, e todos foram ficando cada vez mais furiosos diante do silêncio total, que lhes parecia, obviamente, uma afronta calculada. O oficial encarregado perdeu finalmente o controle e ordenou a um de seus homens:
- Dê um tabefe ou dois nesse homem para que recupere a razão. Diante disso a mulher não conseguiu conter-se: - Por favor, senhores guardas - choramingou, - não batam nele. É meu marido!
- Ganhei! - gritou imediatamente o imbecil. - Você vai fechar a porta!
A FÁBULA DA CONVIVÊNCIA
Durante uma era glacial, muito remota, quando parte do globo terrestre esteve coberto por densa camada de gelo, muitos animais não resistiram ao frio intenso e morreram indefesos, por não se adaptarem às condições do clima hostil. Foi então que uma grande manada de porcos-espinhos numa tentativa de se proteger e sobreviver, começou a se unir, a juntar-se mais e mais. Assim, cada um podia sentir o calor do corpo do outro. E todos juntos, bem unidos, agasalhavam-se mutuamente, aqueciam-se, enfrentando por mais tempo aquele inverno tenebroso. Porém, vida ingrata, os espinhos de cada um começaram a ferir os companheiros mais próximos, justamente aqueles que forneciam mais calor, aquele calor vital, questão de vida ou morte. E afastaram-se, feridos, magoados, sofridos. Dispersaram-se, por não suportarem mais tempo os espinhos de seus semelhantes. Doíam muito ... Mas essa não foi a melhor solução: afastados, logo começaram a morrer congelados. Os que não morreram voltaram a se aproximar pouco a pouco, com jeito, com precauções, de tal forma que, unidos, cada qual conservava uma certa distância do outro, mínima ,mas o suficiente para conviver sem ferir, para sobreviver sem magoar, sem causar danos recíprocos.Assim suportaram-se, resistindo à longa era glacial.
Sobreviveram!
É fácil trocar as palavras
difícil é interpretar os silêncios.
É fácil caminhar lado a lado
difícil é saber como se encontrar.
É fácil beijar o rosto
difícil é chegar ao coração.
É fácil apertar as mãos
difícil é reter seu calor.
É fácil sentir o amor
difícil é conter sua torrente.
Sobre águia e galinhas
Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo cativo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o rainha de todos os pássaros. Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:
- Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia.
- De fato - disse o camponês. É águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.
- Não - retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.
- Não, não - insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.Então decidiram fazer uma prova.
O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:
- Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe!
A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas. O camponês comentou: - Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!
- Não - tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.
No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurou-lhe:
- Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe!
Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas.
O camponês sorriu e voltou à carga:
- Eu lhe havia dito, ela virou galinha!
- Não - respondeu firmemente o naturalista. Ela á águia, possuirá um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar.
No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram-na para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas. O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
- Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe!A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte. Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias e ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez para mais alto. Voou...voou...até confundir-se com o azul do firmamento".
No mar sem hipocampos
Assim que anoiteceu, saiu para pescar. Peixes não, estrelas. Afastous-se da casa, atravessou um campo até o seu limite. Na linha do horizonte, sentado à beira do céu, abriu a caixa das frases poéticas que havia trazido como iscas. Escolheu a mais sonora, prendeu-a firmemente na rebarba luzidia. Depois, pondo-se de cabeça para baixo, lançou a linha no imenso azul, deixando desenrolar todo o molinete. E, paciente, enquanto a Lua avançava sem mover ondas, começou a longa espera de que uma estrela viesse morder o anzol.
(Marina Colasanti)
(Marina Colasanti)
Modinha
Quando eu fico aguda de saudade eu viro só ouvido. Encosto ele no ar, na terra, no canto das paredes, pra escutar nefando, a palavra nefando. Um homem que já morreu cantava "a flor mimosa desbotar não pode, nem mesmo o tempo de um poder nefando"- mais dolorido canta quem não é cantor. A alma dele zoando de tão grave, tocável como o ar de sua garganta vibrando. No juízo final, se Deus permitisse, eu acordava um morto com este canto, mais que o anjo com sua trombeta.
(Adélia Prado)
(Adélia Prado)
Felicidade
"Disseram para aquele homem, que a felicidade estaria no sítio. E agora ele está lá, as mãos encravadas nas reentrâncias do rochedo, o corpo fustigado pelo vento, os olhos parados, fixos no pedaço de felicidade. Acreditamos, que qualquer hora ele vai soltar as mãos para tentar agarrar a felicidade, então veremos um corpo sendo levado pelo vento, com um pedaço da felicidade nas mãos"
Extraído do livro "As Laranjas são iguais" de Oswaldo França Junior
Extraído do livro "As Laranjas são iguais" de Oswaldo França Junior
A liberdade de ler: em busca da fruição
Estamos em uma era em que os meios de comunicação exercem forte influência sobre as pessoas, ditando regras e estabelecendo padrões. Dentro desse contexto, a literatura ocupa um espaço minoritário, deixando uma enorme responsabilidade aos educadores para a mudança dessa realidade. Faz-se necessário entender quais motivos levaram a Literatura Infantil ser rejeitada como arte entre as crianças, e assim ser pouco difundida e manuseada por elas.
Essa rejeição justifica-se pela origem histórica da literatura infantil, que tem relação estreita com a concepção de infância que começa a se estabelecer no século XVII. Em virtude da ascensão da família burguesa, uma nova concepção de infância surge, a criança passa a ser vista como um ser diferente do adulto, com necessidades e características próprias. É inevitável uma educação dirigida a ela, surgindo então, a organização escolar. Segundo Arroyo, “a concepção de criança está em constante transformação, dependendo do momento histórico e do papel que a mulher exerce na sociedade, uma vez que em nossa cultura a mãe está muito próxima ao infante, pois a concepção de criança muda de acordo com o papel que ela assume”[1].
Partindo desses pressupostos, é interessante ressaltar que a literatura destinada às crianças no século XVII era de cunho estritamente pedagógico, com finalidade pragmática, incumbida de dominar a criança. ZILBERMAN esclarece “Concebida originalmente como objeto exclusivo das crianças, passou a receber um status científico, no momento em que se percebeu que não apenas era produzida pelos adultos, mas, como se viu, manipulada por eles, tendo em vista a dominação da infância”[2].
Além disso, a literatura tradicional está impregnada de valores que vem padronizando pensamentos e comportamentos desde então. Ao observar os heróis românticos, constata-se que são seres exemplares dotados de muitas virtudes, deixando evidente o individualismo, pois tornaram-se modelos ideais a serem seguidos. Também está implícito nessas literaturas, o quanto é importante o ter, desvalorizando o ser.
Nesse período, em conseqüência da dominância religiosa, as literaturas apresentavam em seus enredos, grande valorização à virtude e punição severa ao vício, que se daria além da vida. O sexo era uma afronta a moral, tendo como objetivo apenas a procriação, limitando o prazer aos homens. Como conseqüência, passou-se a produzir uma literatura que trabalhava a acepção entre homem e mulher, evidenciando o papel que cabia a cada um.
A literatura tradicional vem sendo difundida desde então, sedimentando-se na práxis pedagógica dos educadores. Contudo, contemporaneamente não se pode fazer uso da Literatura Infantil, como há cem anos atrás, formando leitores decodificadores e seguidores apenas de uma pragmática, sem se considerar o texto como um leque de possibilidades interpretativas.
Contrapondo a literatura tradicional com a literatura atual podemos verificar diferenças básicas. Essa última, segundo Novaes Coelho, enfatiza o espírito solidário, não mais o indivíduo herói, mas um grupo que em conjunto encontra soluções, que são conseguidas através de questionamentos da “verdade”.
Numa nova visão de literatura, as histórias devem questionar o poder absoluto e a realidade social vigente, dando subsídios para a transformação necessária, valorizando o ser acima do ter, visando a construção de um ser que não é perfeito, mas está em aperfeiçoamento constante. O sexo, não é mais apenas um modo de procriação, mas também de fruição e as famílias deixam de ser ideais, abordando outras realidades como a de pais separados, mães que trabalham fora. Apesar de abordar os itens citados e tantos outros, a literatura nova não deixa de possibilitar a fruição, mas “é antes de tudo, literatura; ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem, a vida através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática, o imaginário e o real, os ideais e sua possível realização...”[3]
No âmbito das considerações anteriores, vale ressaltar que o professor tem a tarefa de propor situações agradáveis à criança para que possa deixá-la livre. Para Cagneti, “libertar o leitor é deixá-lo em contato com o livro e permitir que ele sozinho busque seus caminhos literários, através de seus próprios meios – tirando do texto o que mais lhe interessar no momento, usufruindo aquilo que veio ao encontro de suas buscas, sentindo prazer de ler pelo ler sem ser cobrado depois. A identificação do leitor com o texto é sua e, portanto, singular. Como, então, cobrar o que eu, professor, não senti?”[4]
A leitura pode ser uma fonte de alegria tanto quanto pode causar perturbações à alma, como enfatiza Rubem Alves[5]. A maneira como ela é abordada é que definirá a sensação que causará ao leitor.
Para que a sensação causada não seja de desprazer, é importante provar os paratextos do livro, que requerem uma certa sensibilidade. Dessa forma, o leitor decidirá se continuará ou não a leitura, pois se entregar à degustação de um livro, sem saboreá-lo, é prova de doidice.
Contrapondo-se à fruição que o livro é capaz de causar, a escola aborda a literatura unicamente como fonte de saber, tornando-a pesada e difícil de “roer”. A escola não considera que o escritor não escreve com o intuito de formar consciência crítica, mas com o objetivo de fruir prazer em quem lê. Dessa forma, ela utiliza a literatura apenas com finalidades pedagógicas.
Rubem Alves reforça que quando a escola assume a postura de apenas informar sobre a literatura, acaba castrando os órgãos de prazer da criança que possivelmente sairão da escola sem se iniciarem no mundo prazeroso da leitura.
Utilizar-se de recursos que incentivem a busca pelo livro é incumbência do professor, e a informática é um instrumento que abre muitas possibilidades para se aguçar a imaginação da criança. Ao contrário do que muitos pensam, o computador não é um instrumento que anula o livro, mas que o enriquece com o auxílio da tecnologia.
Outro item importante é a ilustração de um livro, pois através da leitura icônica a criança inicia no mundo literário muito antes de aprender a decodificar a escrita. Com a ilustração, o autor do texto pode enriquecê-lo ou matá-lo. Os livros de Ziraldo são um exemplo de ilustrações que permitem à criança leitora criar em cima do texto já escrito, contribuindo para a sua formação cognitiva, emocional e social.
Portanto, cabe ao educador construir uma nova concepção de literatura, utilizando-a não apenas como um meio para ensinar um conteúdo, mas possibilitando à criança fruir através da história, suscitando seu imaginário, tendo uma visão mais ampla de tudo que a cerca, tornado-a mais reflexiva e crítica, sendo capaz de organizar seu pensamento frente a realidade social que vive e atua.
No auto-estranhamento do texto[6], ou seja, na reversibilidade da criança com a história, dá-se um processo de leitura e releitura do texto que gera um remoer existencial. A criança vai criando seu próprio discurso e, por mais que o texto lido seja rico, sempre haverá espaço à criança para imaginar e sonhar. Além de proporcionar prazer, a história pode suscitar respostas e apresentar novas emoções. “É ouvindo estórias que se pode sentir (também) emoções importantes, como a tristeza, raiva, a irritação, o bem-estar, o medo, a alegria, o pavor, a insegurança, a tranqüilidade, e tantas outras mais a viver profundamente tudo o que as narrativas provocam em quem as ouve”.[7]
Nesse sentido, é importante a experimentação de atividades de leitura e produções diversas que gerem uma relação fruitiva entre leitor e livro. Para BARTHES, essa relação fruitiva se constrói quando o leitor penetra nas margens do texto, perpassando pelas suas a fendas, descamando o texto, descobrindo as suas camadas ocultas. Uma relação que só se estabelece depois do primeiro passo: a conquista do leitor.
Portanto, depende dos adultos aproximarem a criança e o livro de modo prazeroso: “Se a criança é a única culpada nos tribunais adultos por não ler, pede-se o veredicto inocente... mais culpados são os adultos que não lhe proporcionam esse contato, que não lhe abrem essas - e outras tantas – trilhas para toda maravilha que é a caminhada pelo mundo mágico e encantado das letras...”[8]
(Simone Gonçalves da Silva Policarpo)
Essa rejeição justifica-se pela origem histórica da literatura infantil, que tem relação estreita com a concepção de infância que começa a se estabelecer no século XVII. Em virtude da ascensão da família burguesa, uma nova concepção de infância surge, a criança passa a ser vista como um ser diferente do adulto, com necessidades e características próprias. É inevitável uma educação dirigida a ela, surgindo então, a organização escolar. Segundo Arroyo, “a concepção de criança está em constante transformação, dependendo do momento histórico e do papel que a mulher exerce na sociedade, uma vez que em nossa cultura a mãe está muito próxima ao infante, pois a concepção de criança muda de acordo com o papel que ela assume”[1].
Partindo desses pressupostos, é interessante ressaltar que a literatura destinada às crianças no século XVII era de cunho estritamente pedagógico, com finalidade pragmática, incumbida de dominar a criança. ZILBERMAN esclarece “Concebida originalmente como objeto exclusivo das crianças, passou a receber um status científico, no momento em que se percebeu que não apenas era produzida pelos adultos, mas, como se viu, manipulada por eles, tendo em vista a dominação da infância”[2].
Além disso, a literatura tradicional está impregnada de valores que vem padronizando pensamentos e comportamentos desde então. Ao observar os heróis românticos, constata-se que são seres exemplares dotados de muitas virtudes, deixando evidente o individualismo, pois tornaram-se modelos ideais a serem seguidos. Também está implícito nessas literaturas, o quanto é importante o ter, desvalorizando o ser.
Nesse período, em conseqüência da dominância religiosa, as literaturas apresentavam em seus enredos, grande valorização à virtude e punição severa ao vício, que se daria além da vida. O sexo era uma afronta a moral, tendo como objetivo apenas a procriação, limitando o prazer aos homens. Como conseqüência, passou-se a produzir uma literatura que trabalhava a acepção entre homem e mulher, evidenciando o papel que cabia a cada um.
A literatura tradicional vem sendo difundida desde então, sedimentando-se na práxis pedagógica dos educadores. Contudo, contemporaneamente não se pode fazer uso da Literatura Infantil, como há cem anos atrás, formando leitores decodificadores e seguidores apenas de uma pragmática, sem se considerar o texto como um leque de possibilidades interpretativas.
Contrapondo a literatura tradicional com a literatura atual podemos verificar diferenças básicas. Essa última, segundo Novaes Coelho, enfatiza o espírito solidário, não mais o indivíduo herói, mas um grupo que em conjunto encontra soluções, que são conseguidas através de questionamentos da “verdade”.
Numa nova visão de literatura, as histórias devem questionar o poder absoluto e a realidade social vigente, dando subsídios para a transformação necessária, valorizando o ser acima do ter, visando a construção de um ser que não é perfeito, mas está em aperfeiçoamento constante. O sexo, não é mais apenas um modo de procriação, mas também de fruição e as famílias deixam de ser ideais, abordando outras realidades como a de pais separados, mães que trabalham fora. Apesar de abordar os itens citados e tantos outros, a literatura nova não deixa de possibilitar a fruição, mas “é antes de tudo, literatura; ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem, a vida através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática, o imaginário e o real, os ideais e sua possível realização...”[3]
No âmbito das considerações anteriores, vale ressaltar que o professor tem a tarefa de propor situações agradáveis à criança para que possa deixá-la livre. Para Cagneti, “libertar o leitor é deixá-lo em contato com o livro e permitir que ele sozinho busque seus caminhos literários, através de seus próprios meios – tirando do texto o que mais lhe interessar no momento, usufruindo aquilo que veio ao encontro de suas buscas, sentindo prazer de ler pelo ler sem ser cobrado depois. A identificação do leitor com o texto é sua e, portanto, singular. Como, então, cobrar o que eu, professor, não senti?”[4]
A leitura pode ser uma fonte de alegria tanto quanto pode causar perturbações à alma, como enfatiza Rubem Alves[5]. A maneira como ela é abordada é que definirá a sensação que causará ao leitor.
Para que a sensação causada não seja de desprazer, é importante provar os paratextos do livro, que requerem uma certa sensibilidade. Dessa forma, o leitor decidirá se continuará ou não a leitura, pois se entregar à degustação de um livro, sem saboreá-lo, é prova de doidice.
Contrapondo-se à fruição que o livro é capaz de causar, a escola aborda a literatura unicamente como fonte de saber, tornando-a pesada e difícil de “roer”. A escola não considera que o escritor não escreve com o intuito de formar consciência crítica, mas com o objetivo de fruir prazer em quem lê. Dessa forma, ela utiliza a literatura apenas com finalidades pedagógicas.
Rubem Alves reforça que quando a escola assume a postura de apenas informar sobre a literatura, acaba castrando os órgãos de prazer da criança que possivelmente sairão da escola sem se iniciarem no mundo prazeroso da leitura.
Utilizar-se de recursos que incentivem a busca pelo livro é incumbência do professor, e a informática é um instrumento que abre muitas possibilidades para se aguçar a imaginação da criança. Ao contrário do que muitos pensam, o computador não é um instrumento que anula o livro, mas que o enriquece com o auxílio da tecnologia.
Outro item importante é a ilustração de um livro, pois através da leitura icônica a criança inicia no mundo literário muito antes de aprender a decodificar a escrita. Com a ilustração, o autor do texto pode enriquecê-lo ou matá-lo. Os livros de Ziraldo são um exemplo de ilustrações que permitem à criança leitora criar em cima do texto já escrito, contribuindo para a sua formação cognitiva, emocional e social.
Portanto, cabe ao educador construir uma nova concepção de literatura, utilizando-a não apenas como um meio para ensinar um conteúdo, mas possibilitando à criança fruir através da história, suscitando seu imaginário, tendo uma visão mais ampla de tudo que a cerca, tornado-a mais reflexiva e crítica, sendo capaz de organizar seu pensamento frente a realidade social que vive e atua.
No auto-estranhamento do texto[6], ou seja, na reversibilidade da criança com a história, dá-se um processo de leitura e releitura do texto que gera um remoer existencial. A criança vai criando seu próprio discurso e, por mais que o texto lido seja rico, sempre haverá espaço à criança para imaginar e sonhar. Além de proporcionar prazer, a história pode suscitar respostas e apresentar novas emoções. “É ouvindo estórias que se pode sentir (também) emoções importantes, como a tristeza, raiva, a irritação, o bem-estar, o medo, a alegria, o pavor, a insegurança, a tranqüilidade, e tantas outras mais a viver profundamente tudo o que as narrativas provocam em quem as ouve”.[7]
Nesse sentido, é importante a experimentação de atividades de leitura e produções diversas que gerem uma relação fruitiva entre leitor e livro. Para BARTHES, essa relação fruitiva se constrói quando o leitor penetra nas margens do texto, perpassando pelas suas a fendas, descamando o texto, descobrindo as suas camadas ocultas. Uma relação que só se estabelece depois do primeiro passo: a conquista do leitor.
Portanto, depende dos adultos aproximarem a criança e o livro de modo prazeroso: “Se a criança é a única culpada nos tribunais adultos por não ler, pede-se o veredicto inocente... mais culpados são os adultos que não lhe proporcionam esse contato, que não lhe abrem essas - e outras tantas – trilhas para toda maravilha que é a caminhada pelo mundo mágico e encantado das letras...”[8]
(Simone Gonçalves da Silva Policarpo)
sexta-feira, abril 22, 2005
O conto de fada e a problemática do pertencimento social
Se há uma característica que vem marcando o processo de desenvolvimento da civilização desde o seu início é a idéia de que, para existir, a sociedade depende da integração do homem com seu meio. Essa ênfase ao pertencimento social é decorrente dos vários elementos que ameaçavam constantemente a integridade dos grupos humanos no passado, tais como: guerras, pestes e invasões estrangeiras. Essa necessidade de coesão social fomentou a criação de narrativas que gradativamente ajudaram a cristalizar um sistema de idéias sobre a expectativa da sociedade em relação ao papel social do indivíduo. Nesse sistema, o ‘Outro’ é aquele que, deliberadamente ou não, se encontra isolado do convívio com seus semelhantes, ou não compartilha dos mesmos costumes. Nesta condição, ele se torna o desvio a ser evitado, o exemplo do negativo e do perigoso. Conforme será visto a seguir, dentre as várias formas de criação de narrativas, o conto de fada também se utiliza significativamente da imagem de ameaça que o ‘Outro’ representaria para a integridade da sociedade. A fim de desenvolver e exemplificar tal idéia, este artigo discutirá como o conto de fada “Chapeuzinho Vermelho” funda sua forma num discurso legitimador da integração social através das personagens do lobo e da avó.
A edição do conto de fada, tal como o conhecemos hoje, surge na França de fins do século XVII sob iniciativa de Charles Perrault(1628-1703). Ao contrário do que possa ser pensado, Perrault não criou as narrativas de seus contos, mas as editou para que estas se adequassem à audiência da corte do rei Luís XIV(1638-1715). Foram as narrativas folclóricas contadas pelos camponeses, governantas e serventes que forneceram a matéria-prima para estes contos. Apesar do distanciamento da camada popular e do desprezo pela sua cultura, a classe nobre conhecia tais narrativas através do inevitável contato por meio do comércio ou pela presença das governantas e outros serviçais em suas residências. Após coletar tais narrativas, Charles Perrault eliminou o quanto pôde as passagens obscenas ou repugnantes que continham incesto, sexo grupal e canibalismo, para manter o seu apelo literário junto aos salões letrados parisienses. Assim, veio a público as “Histórias ou contos do tempo passado, com suas moralidades: Contos de Mãe Gansa”(1697), dando forma editorial para “A Bela Adormecida no Bosque”, “Chapeuzinho Vermelho”, “O Gato de Botas”, “As Fadas”, “A Gata Borralheira”, “Henrique do Topete” e “O Pequeno Polegar”. Portanto, antes de ter sido voltado para as crianças, o conto de fada foi originalmente criado tendo-se em mente os leitores adultos.(COELHO, 1997: p.35)
Dois fatores principais podem ser apontados para ajudar a esclarecer a transferência dos contos de fadas do universo adulto para o infantil. O primeiro é que, até o século XVII, a criança não era percebida como um ser socialmente distinto do adulto. Ela compartilhava com os adultos o mesmo tipo de roupa, os cômodos, o trabalho e também os ambientes sociais.(SHAVIT, 1999:p.317) Assim, circulando entre adultos, as crianças entravam em contato com os contos de fadas e invariavelmente se sentiam atraídas para o seu universo imaginativo. Cabe destacar também o papel-chave que as governantas, vindas da camada popular, desempenharam nesse processo ao contarem as narrativas folclóricas para os filhos dos nobres que ficavam aos seus cuidados. O exemplo desta importância está na capa da primeira edição de “Contos da Mãe Gansa”, em que Perrault mostra uma senhora idosa contando estórias para crianças ao pé da lareira.
A partir de meados do século XVII – e gradativamente até o século XIX –, a Revolução Industrial, a diminuição da mortalidade infantil e o aumento da expectativa de vida contribuíram para o desenvolvimento da noção social de infância. Uma vez configurada socialmente a criança, a Igreja, os moralistas e os pedagogos perceberam o potencial educativo e disciplinador dos contos. Aqui reside o segundo ponto da ligação das crianças com os contos de fadas: a exemplaridade. Em todos estas estórias havia a intenção de se transmitir determinados valores ou padrões a serem respeitados pela comunidade ou incorporados pelo comportamento de cada indivíduo. É por esta razão que até hoje se vê o conto de fada mais como um instrumento pedagógico do que como uma arte literária. Dentre os muitos valores transmitidos, aqueles relacionados à noção de pertencimento social ocuparam lugar de destaque, o que é facilmente exemplificado através do conto de fada “Chapeuzinho Vermelho”.
“No que você pensa quando vê alguém de vermelho carregando um cesto?” (WILSON, 1993: p. 271), instiga a escritora canadense Margaret Atwood ao referir-se à ilustração da capa de seu romance “A história da Aia’(1985), em que se vê uma figura feminina com vestido vermelho carregando uma cesta. Efetivamente, a estória da menina que carrega uma cesta com comida para a casa da avó e encontra o lobo mal enraizou-se na cultura ocidental, dispensando qualquer apresentação. No entanto, não se pode esquecer que a versão literária mais conhecida atualmente deste conto de fada é a dos irmãos Grimm, publicada em “Contos da infância e do lar”(1813-15). Diferentemene do conto de Perrault, que termina com Chapeuzinho Vermelho sendo devorada pelo lobo, a estória dos irmãos Grimm acrescenta a figura de um caçador que resgata, intactas, Chapeuzinho e a avó da barriga do lobo. Apesar dessas diferenças, ambos os contos são prioritariamente lidos como um alerta para as crianças sobre as conseqüências de desobedecerem às ordens dos pais. No entanto, mais importante do que as particularidades entre tais versões, é o fato de que, ao contrário de outros contos de fadas cujas raízes folclóricas se perdem nas brumas do tempo, “Chapeuzinho Vermelho” apresenta elementos que permitem pensar sua genealogia. O lobo é a chave para se perceber em “Chapeuzinho Vermelho” um discurso legitimador da integração social.
Diferentemente de outros vilões dos contos de fadas que são ligados ao mágico (bruxas, ogros, trolls, gigantes e duendes), o lobo que encontra Chapeuzinho no meio da floresta é uma fera real. Portanto, lugar do bestial ou da transgressão, a floresta era tida como a habitação dos seres banidos da companhia humana. Nesse sentido, “Chapeuzinho Vermelho” subverte a atmosfera de fantasia dos contos de fadas, sugerindo que a estória pode ter se originado relativamente tarde (na Idade Média), como um conto admonitório que advertia as pessoas para os perigos da floresta, incluindo aí seus predadores, e da importância de se manter a comunidade unida, especialmente no inverno, quando a escassez de comida levava os lobos a atacarem com mais freqüência os camponeses. Como explica Paul Barber, os lobos sempre foram vistos como comedores de homens.(BARBER, 1988: p.94) Além de se postar como um símbolo das ameaças da floresta, em contraste com a segurança proporcionada pelo convívio social, a personagem do lobo adquire um significado que ultrapassa sua função no texto se a considerarmos como a representação mais temida do ‘Outro’ do período compreendido entre os séculos XVI e XVIII: o lobisomem.
“A menina partiu. Na encruzilhada encontrou um lobo, que perguntou: ‘Para onde está indo?’”(TATAR, 2002:p.334). “A história da Avó”, de onde a citação anterior provém, é uma versão anônima de 1885 do conto “Chapeuzinho Vermelho”, coletada pelo folclorista francês Paul Delarue, sendo considerada por muitos estudiosos como uma das narrativas folclóricas mais próximas da tradição oral que precedeu Perrault, e que o teria auxiliado na composição de seu conto de fada. Neste pequeno trecho, encontram-se dois elementos indicadores de que, nas antigas versões orais, o vilão de “Chapeuzinho Vermelho” poderia ser, na verdade, o lobisomem folclórico: a habilidade de fala e a encruzilhada.
Sendo o único elemento que realmente se remete ao universo fantástico dos contos de fadas, a habilidade de fala do lobo pode também ser lida como uma indicação de que a fera que está espreitando a menina do capuz vermelho é o temido lobisomem. Ao contrário da imagem criada e veiculada pelo cinema –na qual o lobisomem é um ser de forma híbrida que anda em duas pernas como o homem, mas possui feições de lobo–, o lobisomem folclórico não passava de um ser humano que ora assumia a forma de um lobo normal, ora a alma possuía o corpo de um lobo ou era acometido por uma insanidade ou doença que o levava a apresentar uma fúria animalesca.(BARING-GOULD,2003:pp.17-20) Nestes três casos, o lobisomem ainda poderia manter sua capacidade de comunicação, o que apenas servia para denunciar sua condição sobrenatural. Mas se o modo da transformação poderia variar, o locus desta era bastante definido: a encruzilhada. Era neste local que a pessoa tanto se transformava em lobo quanto retornava para reassumir a forma humana. A encruzilhada, onde ocorre o primeiro encontro de Chapeuzinho Vermelho na versão oral de Paul Delarue e na versão de Perrault (próxima da narrativa folclórica), é de fato um dos elementos mais constantes relacionado ao folclore do lobisomem, sendo citada desde a Roma Antiga até os dias de hoje no interior do Brasil(CASCUDO, 1983: p.158), fato este que reforça a conexão da personagem do conto de fada com a besta folclórica.
Não se pode deixar de notar no folclore do lobisomem a advertência àqueles que, buscando destacar-se de seus semelhantes, infringiam e ameaçavam a ordem social. No entanto, outro fator que liga a figura do lobisomem à alteridade remonta à queda do Império Romano, quando a Europa mediterrânea passou a ser assolada pelas invasões nórdicas. Entre os antigos nórdicos, era costume que certos guerreiros vestissem as peles das feras que haviam abatido, o que lhes dava um ar de ferocidade, calculado para incutir o terror nos corações dos inimigos. Estes guerreiros – chamados de berserkir – eram objetos de aversão e terror entre os habitantes das terras invadidas, já que eles pilhavam, destruíam e matavam tudo em seu caminho, não respeitando igrejas, governos ou a idade e sexo de suas vítimas. Nesse sentido, é perfeitamente possível que a superstição tenha se difundido devido ao medo popular destes nômades vestidos com pele de lobo e urso, acreditando-se que estivessem imbuídos com a força das feras, cujas peles vestiam.(BARING-GOULD,2003:p.33)
As sucessivas invasões bárbaras penetraram fundo na psique dos europeus, gerando um estado de profundo temor do estrangeiro nômade, ou seja, de todos aqueles que não pertenciam a um lugar fixo e integrado a uma comunidade. Contribuiu também para este medo do ‘Outro’ e do desenvolvimento da imagem do lobisomem o fato de que este estrangeiro, muitas vezes apenas por não ser cristão, recusava-se a inclinar-se diante da cruz, algo que para os olhos do camponês cristianizado era considerado sinal de pacto com o diabo. Como lembra Georges Duby, durante a Idade Média, não é necessário ir muito longe para se sentir estrangeiro. No entanto, não se pode esquecer que há também o estrangeiro absoluto, ou seja, aquele que não pertence à comunidade cristã: o pagão, o judeu, o muçulmano.(DUBY, 1995:pp.62-63) Portanto, não é por acaso que os vilões dos contos de fadas considerados hoje “clássicos” são geralmente representados como ‘Outro’: a bruxa de “João e Maria” mora na floresta e é estereotipada como judia; o Barba Azul é geralmente representado como um muçulmano e mora num lugar afastado e sombrio.(SILVA, 2004:p.8) Além do pagão, do judeu e do muçulmano, também o eremita era objeto de temor e perseguição, pois sua condição anacoreta é a antípoda da coesão social.
Uma pergunta que talvez possa ocorrer sobre “Chapeuzinho Vermelho” na mente de um leitor adulto é: Por que uma senhora idosa e doente como a avó de Chapeuzinho Vermelho estaria morando em uma casa distante, no meio de uma floresta, e cercada de lobos? A resposta talvez seja: porque ela também é um lobo. Esta leitura da personagem da avó como um lobisomem é possível se mais uma vez nos atermos aos elementos folclóricos contidos nas versões de Perrault e dos irmãos Grimm. Em ambas as versões, a mãe de Chapeuzinho pede que a filha leve uma cesta com alimentos para a avó, pois, nas palavras da mãe: “me disseram que [a avó] está doente”(PERRAULT, 2002: p.336) A menção logo no início da narrativa da condição física da avó é relevante se considerarmos que a licantropia – a mudança de homem ou mulher para a forma de um lobo – já havia sido considerada uma doença desde finais da Idade Média. De fato, até hoje no interior do Brasil se olham as pessoas com anemia profunda (‘amarelas’ no linguajar popular), ou com tuberculose, com certa suspeita. Tais enfermos são possíveis candidatos a lobisomens.(CASCUDO,1983:p.156) A melancolia excessiva também era tida como uma das causas que poderiam levar alguém a se transformar nestes seres fantásticos. É interessante imaginar que, nas antigas narrativas orais, a simples menção do estado de saúde da avó no começo da estória já serviria de ‘indício’ para prender a atenção do público ouvinte até o momento de confirmação da ‘doença’ da avó.
Outro fator que evidencia a proposta de licantropia da avó é o local de sua moradia. Apesar de Perrault situar a casa da avó “numa outra aldeia”(PERRAULT, 2002:p.336), a versão dos irmãos Grimm não deixa dúvidas: “Sua avó morava lá no meio da mata”(GRIMM, 2002:p.30). Durante a Idade Média e nos séculos seguintes, considerando o preconceito social contra qualquer um que decidisse pela vida na floresta, pode-se propor que o modo de vida da personagem é algo derivado de uma condição física que a impossibilitaria de manter convívio contínuo com outras pessoas – o mesmo destino reservado aos leprosos, loucos e demais marginalizados, que eram isolados da sociedade.
Talvez a principal situação que liga a vovozinha ao lobisomem transcorra quando Chapeuzinho Vermelho chega ao seu destino e encontra o lobo na cama da avó, fazendo-se passar por ela. A versão dos irmãos Grimm diz: “Lá estava sua avó, deitada, com a touca puxada para cima do rosto. Parecia muito esquisita.”(GRIMM,2002:p.33) Embora em todas as versões fique claro que o lobo mata e devora a avó, a simulação que o lobo faz para se passar pela senhora cria uma justaposição dos personagens que possivelmente estaria presente em alguma narrativa oral de um tempo em que o lobo e a avó eram um único ser. Nesse sentido, a estranheza de Chapeuzinho em perceber o ser debaixo do cobertor como sua avó adquire um novo significado. Talvez ela saiba que quem está na cama é sua avó, mas como deverá agir? A avó na forma lupina lembrar-se-á da neta?
Como tantos outros contos de fadas, é difícil precisar as origens de “Chapeuzinho Vermelho”, mas sua função é clara: servir para as pessoas como uma fonte de aprendizado sobre o mundo e seus perigos. A advertência sobre os perigos do isolamento social não se esgota aqui, como demonstram as contínuas pesquisas e descobertas na área das narrativas folclóricas. Há, por exemplo, uma estória Latina de Egberto de Lièges, chamada Fecunda ratis (1023), na qual uma menininha é descoberta na companhia dos lobos. A menina usa uma manta vermelha de grande importância para ela. Será que a própria Chapeuzinho, com seu manto cor de sangue, não seria também um lobisomem?
Por ALEXANDER MEIRELES DA SILVA
Doutorando em Literatura Comparada (UFRJ). Mestre em Literaturas de Língua Inglesa (UERJ). Professor Titular de Literaturas de Língua Inglesa da FEUDUC (Fundação Educacional de Duque de Caxias - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Duque de Caxias) e de Língua Inglesa e Literaturas correspondentes da UNIG (Universidade Iguaçu).
Referências Bibliográficas:
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BARBER, Paul. Vampires, burial and death. New York: Yale University Press, 1988. BARING-GOULD, Sabine. Lobisomem: um tratado sobre casos de licantropia. Trad. Fernanda M. V. de Azevedo Rossi. São Paulo: Madras, 2003.
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FISKE, John. “Werewolves and swan-maidens”. In: ---. Myths and myth makers. London: Random House, 1996, pp. 69-103.
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TATAR, Maria. Contos de fadas. Trad. Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002.
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A edição do conto de fada, tal como o conhecemos hoje, surge na França de fins do século XVII sob iniciativa de Charles Perrault(1628-1703). Ao contrário do que possa ser pensado, Perrault não criou as narrativas de seus contos, mas as editou para que estas se adequassem à audiência da corte do rei Luís XIV(1638-1715). Foram as narrativas folclóricas contadas pelos camponeses, governantas e serventes que forneceram a matéria-prima para estes contos. Apesar do distanciamento da camada popular e do desprezo pela sua cultura, a classe nobre conhecia tais narrativas através do inevitável contato por meio do comércio ou pela presença das governantas e outros serviçais em suas residências. Após coletar tais narrativas, Charles Perrault eliminou o quanto pôde as passagens obscenas ou repugnantes que continham incesto, sexo grupal e canibalismo, para manter o seu apelo literário junto aos salões letrados parisienses. Assim, veio a público as “Histórias ou contos do tempo passado, com suas moralidades: Contos de Mãe Gansa”(1697), dando forma editorial para “A Bela Adormecida no Bosque”, “Chapeuzinho Vermelho”, “O Gato de Botas”, “As Fadas”, “A Gata Borralheira”, “Henrique do Topete” e “O Pequeno Polegar”. Portanto, antes de ter sido voltado para as crianças, o conto de fada foi originalmente criado tendo-se em mente os leitores adultos.(COELHO, 1997: p.35)
Dois fatores principais podem ser apontados para ajudar a esclarecer a transferência dos contos de fadas do universo adulto para o infantil. O primeiro é que, até o século XVII, a criança não era percebida como um ser socialmente distinto do adulto. Ela compartilhava com os adultos o mesmo tipo de roupa, os cômodos, o trabalho e também os ambientes sociais.(SHAVIT, 1999:p.317) Assim, circulando entre adultos, as crianças entravam em contato com os contos de fadas e invariavelmente se sentiam atraídas para o seu universo imaginativo. Cabe destacar também o papel-chave que as governantas, vindas da camada popular, desempenharam nesse processo ao contarem as narrativas folclóricas para os filhos dos nobres que ficavam aos seus cuidados. O exemplo desta importância está na capa da primeira edição de “Contos da Mãe Gansa”, em que Perrault mostra uma senhora idosa contando estórias para crianças ao pé da lareira.
A partir de meados do século XVII – e gradativamente até o século XIX –, a Revolução Industrial, a diminuição da mortalidade infantil e o aumento da expectativa de vida contribuíram para o desenvolvimento da noção social de infância. Uma vez configurada socialmente a criança, a Igreja, os moralistas e os pedagogos perceberam o potencial educativo e disciplinador dos contos. Aqui reside o segundo ponto da ligação das crianças com os contos de fadas: a exemplaridade. Em todos estas estórias havia a intenção de se transmitir determinados valores ou padrões a serem respeitados pela comunidade ou incorporados pelo comportamento de cada indivíduo. É por esta razão que até hoje se vê o conto de fada mais como um instrumento pedagógico do que como uma arte literária. Dentre os muitos valores transmitidos, aqueles relacionados à noção de pertencimento social ocuparam lugar de destaque, o que é facilmente exemplificado através do conto de fada “Chapeuzinho Vermelho”.
“No que você pensa quando vê alguém de vermelho carregando um cesto?” (WILSON, 1993: p. 271), instiga a escritora canadense Margaret Atwood ao referir-se à ilustração da capa de seu romance “A história da Aia’(1985), em que se vê uma figura feminina com vestido vermelho carregando uma cesta. Efetivamente, a estória da menina que carrega uma cesta com comida para a casa da avó e encontra o lobo mal enraizou-se na cultura ocidental, dispensando qualquer apresentação. No entanto, não se pode esquecer que a versão literária mais conhecida atualmente deste conto de fada é a dos irmãos Grimm, publicada em “Contos da infância e do lar”(1813-15). Diferentemene do conto de Perrault, que termina com Chapeuzinho Vermelho sendo devorada pelo lobo, a estória dos irmãos Grimm acrescenta a figura de um caçador que resgata, intactas, Chapeuzinho e a avó da barriga do lobo. Apesar dessas diferenças, ambos os contos são prioritariamente lidos como um alerta para as crianças sobre as conseqüências de desobedecerem às ordens dos pais. No entanto, mais importante do que as particularidades entre tais versões, é o fato de que, ao contrário de outros contos de fadas cujas raízes folclóricas se perdem nas brumas do tempo, “Chapeuzinho Vermelho” apresenta elementos que permitem pensar sua genealogia. O lobo é a chave para se perceber em “Chapeuzinho Vermelho” um discurso legitimador da integração social.
Diferentemente de outros vilões dos contos de fadas que são ligados ao mágico (bruxas, ogros, trolls, gigantes e duendes), o lobo que encontra Chapeuzinho no meio da floresta é uma fera real. Portanto, lugar do bestial ou da transgressão, a floresta era tida como a habitação dos seres banidos da companhia humana. Nesse sentido, “Chapeuzinho Vermelho” subverte a atmosfera de fantasia dos contos de fadas, sugerindo que a estória pode ter se originado relativamente tarde (na Idade Média), como um conto admonitório que advertia as pessoas para os perigos da floresta, incluindo aí seus predadores, e da importância de se manter a comunidade unida, especialmente no inverno, quando a escassez de comida levava os lobos a atacarem com mais freqüência os camponeses. Como explica Paul Barber, os lobos sempre foram vistos como comedores de homens.(BARBER, 1988: p.94) Além de se postar como um símbolo das ameaças da floresta, em contraste com a segurança proporcionada pelo convívio social, a personagem do lobo adquire um significado que ultrapassa sua função no texto se a considerarmos como a representação mais temida do ‘Outro’ do período compreendido entre os séculos XVI e XVIII: o lobisomem.
“A menina partiu. Na encruzilhada encontrou um lobo, que perguntou: ‘Para onde está indo?’”(TATAR, 2002:p.334). “A história da Avó”, de onde a citação anterior provém, é uma versão anônima de 1885 do conto “Chapeuzinho Vermelho”, coletada pelo folclorista francês Paul Delarue, sendo considerada por muitos estudiosos como uma das narrativas folclóricas mais próximas da tradição oral que precedeu Perrault, e que o teria auxiliado na composição de seu conto de fada. Neste pequeno trecho, encontram-se dois elementos indicadores de que, nas antigas versões orais, o vilão de “Chapeuzinho Vermelho” poderia ser, na verdade, o lobisomem folclórico: a habilidade de fala e a encruzilhada.
Sendo o único elemento que realmente se remete ao universo fantástico dos contos de fadas, a habilidade de fala do lobo pode também ser lida como uma indicação de que a fera que está espreitando a menina do capuz vermelho é o temido lobisomem. Ao contrário da imagem criada e veiculada pelo cinema –na qual o lobisomem é um ser de forma híbrida que anda em duas pernas como o homem, mas possui feições de lobo–, o lobisomem folclórico não passava de um ser humano que ora assumia a forma de um lobo normal, ora a alma possuía o corpo de um lobo ou era acometido por uma insanidade ou doença que o levava a apresentar uma fúria animalesca.(BARING-GOULD,2003:pp.17-20) Nestes três casos, o lobisomem ainda poderia manter sua capacidade de comunicação, o que apenas servia para denunciar sua condição sobrenatural. Mas se o modo da transformação poderia variar, o locus desta era bastante definido: a encruzilhada. Era neste local que a pessoa tanto se transformava em lobo quanto retornava para reassumir a forma humana. A encruzilhada, onde ocorre o primeiro encontro de Chapeuzinho Vermelho na versão oral de Paul Delarue e na versão de Perrault (próxima da narrativa folclórica), é de fato um dos elementos mais constantes relacionado ao folclore do lobisomem, sendo citada desde a Roma Antiga até os dias de hoje no interior do Brasil(CASCUDO, 1983: p.158), fato este que reforça a conexão da personagem do conto de fada com a besta folclórica.
Não se pode deixar de notar no folclore do lobisomem a advertência àqueles que, buscando destacar-se de seus semelhantes, infringiam e ameaçavam a ordem social. No entanto, outro fator que liga a figura do lobisomem à alteridade remonta à queda do Império Romano, quando a Europa mediterrânea passou a ser assolada pelas invasões nórdicas. Entre os antigos nórdicos, era costume que certos guerreiros vestissem as peles das feras que haviam abatido, o que lhes dava um ar de ferocidade, calculado para incutir o terror nos corações dos inimigos. Estes guerreiros – chamados de berserkir – eram objetos de aversão e terror entre os habitantes das terras invadidas, já que eles pilhavam, destruíam e matavam tudo em seu caminho, não respeitando igrejas, governos ou a idade e sexo de suas vítimas. Nesse sentido, é perfeitamente possível que a superstição tenha se difundido devido ao medo popular destes nômades vestidos com pele de lobo e urso, acreditando-se que estivessem imbuídos com a força das feras, cujas peles vestiam.(BARING-GOULD,2003:p.33)
As sucessivas invasões bárbaras penetraram fundo na psique dos europeus, gerando um estado de profundo temor do estrangeiro nômade, ou seja, de todos aqueles que não pertenciam a um lugar fixo e integrado a uma comunidade. Contribuiu também para este medo do ‘Outro’ e do desenvolvimento da imagem do lobisomem o fato de que este estrangeiro, muitas vezes apenas por não ser cristão, recusava-se a inclinar-se diante da cruz, algo que para os olhos do camponês cristianizado era considerado sinal de pacto com o diabo. Como lembra Georges Duby, durante a Idade Média, não é necessário ir muito longe para se sentir estrangeiro. No entanto, não se pode esquecer que há também o estrangeiro absoluto, ou seja, aquele que não pertence à comunidade cristã: o pagão, o judeu, o muçulmano.(DUBY, 1995:pp.62-63) Portanto, não é por acaso que os vilões dos contos de fadas considerados hoje “clássicos” são geralmente representados como ‘Outro’: a bruxa de “João e Maria” mora na floresta e é estereotipada como judia; o Barba Azul é geralmente representado como um muçulmano e mora num lugar afastado e sombrio.(SILVA, 2004:p.8) Além do pagão, do judeu e do muçulmano, também o eremita era objeto de temor e perseguição, pois sua condição anacoreta é a antípoda da coesão social.
Uma pergunta que talvez possa ocorrer sobre “Chapeuzinho Vermelho” na mente de um leitor adulto é: Por que uma senhora idosa e doente como a avó de Chapeuzinho Vermelho estaria morando em uma casa distante, no meio de uma floresta, e cercada de lobos? A resposta talvez seja: porque ela também é um lobo. Esta leitura da personagem da avó como um lobisomem é possível se mais uma vez nos atermos aos elementos folclóricos contidos nas versões de Perrault e dos irmãos Grimm. Em ambas as versões, a mãe de Chapeuzinho pede que a filha leve uma cesta com alimentos para a avó, pois, nas palavras da mãe: “me disseram que [a avó] está doente”(PERRAULT, 2002: p.336) A menção logo no início da narrativa da condição física da avó é relevante se considerarmos que a licantropia – a mudança de homem ou mulher para a forma de um lobo – já havia sido considerada uma doença desde finais da Idade Média. De fato, até hoje no interior do Brasil se olham as pessoas com anemia profunda (‘amarelas’ no linguajar popular), ou com tuberculose, com certa suspeita. Tais enfermos são possíveis candidatos a lobisomens.(CASCUDO,1983:p.156) A melancolia excessiva também era tida como uma das causas que poderiam levar alguém a se transformar nestes seres fantásticos. É interessante imaginar que, nas antigas narrativas orais, a simples menção do estado de saúde da avó no começo da estória já serviria de ‘indício’ para prender a atenção do público ouvinte até o momento de confirmação da ‘doença’ da avó.
Outro fator que evidencia a proposta de licantropia da avó é o local de sua moradia. Apesar de Perrault situar a casa da avó “numa outra aldeia”(PERRAULT, 2002:p.336), a versão dos irmãos Grimm não deixa dúvidas: “Sua avó morava lá no meio da mata”(GRIMM, 2002:p.30). Durante a Idade Média e nos séculos seguintes, considerando o preconceito social contra qualquer um que decidisse pela vida na floresta, pode-se propor que o modo de vida da personagem é algo derivado de uma condição física que a impossibilitaria de manter convívio contínuo com outras pessoas – o mesmo destino reservado aos leprosos, loucos e demais marginalizados, que eram isolados da sociedade.
Talvez a principal situação que liga a vovozinha ao lobisomem transcorra quando Chapeuzinho Vermelho chega ao seu destino e encontra o lobo na cama da avó, fazendo-se passar por ela. A versão dos irmãos Grimm diz: “Lá estava sua avó, deitada, com a touca puxada para cima do rosto. Parecia muito esquisita.”(GRIMM,2002:p.33) Embora em todas as versões fique claro que o lobo mata e devora a avó, a simulação que o lobo faz para se passar pela senhora cria uma justaposição dos personagens que possivelmente estaria presente em alguma narrativa oral de um tempo em que o lobo e a avó eram um único ser. Nesse sentido, a estranheza de Chapeuzinho em perceber o ser debaixo do cobertor como sua avó adquire um novo significado. Talvez ela saiba que quem está na cama é sua avó, mas como deverá agir? A avó na forma lupina lembrar-se-á da neta?
Como tantos outros contos de fadas, é difícil precisar as origens de “Chapeuzinho Vermelho”, mas sua função é clara: servir para as pessoas como uma fonte de aprendizado sobre o mundo e seus perigos. A advertência sobre os perigos do isolamento social não se esgota aqui, como demonstram as contínuas pesquisas e descobertas na área das narrativas folclóricas. Há, por exemplo, uma estória Latina de Egberto de Lièges, chamada Fecunda ratis (1023), na qual uma menininha é descoberta na companhia dos lobos. A menina usa uma manta vermelha de grande importância para ela. Será que a própria Chapeuzinho, com seu manto cor de sangue, não seria também um lobisomem?
Por ALEXANDER MEIRELES DA SILVA
Doutorando em Literatura Comparada (UFRJ). Mestre em Literaturas de Língua Inglesa (UERJ). Professor Titular de Literaturas de Língua Inglesa da FEUDUC (Fundação Educacional de Duque de Caxias - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Duque de Caxias) e de Língua Inglesa e Literaturas correspondentes da UNIG (Universidade Iguaçu).
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